De Katia Aguiar
Relembro algumas questões que, no ano de 2012, ensejaram a construção do encontro que tomou a forma “roda de conversa”. Muitas dúvidas e incertezas cercavam nossas reuniões e discussões sobre a inserção da Capina no campo de lutas dos setores populares, suas possibilidades de contribuição e, especialmente, a necessidade de notícias que pudessem servir ao desenho das condições atuais dessas lutas. Convidar amigos e amigas que nos últimos anos de governos petistas, aceitaram o desafio de ocupar lugares, desenvolver projetos e coordenar ações no entremeio do Estado e da Sociedade, nos pareceu uma proposta acertada. Afinal, a disposição ao encontro e à escuta tem sido uma marca nos trabalhos desenvolvidos pela Capina, sendo ainda, um aspecto importante na formação e na atuação de trabalhadores sociais. Para nós, a roda de conversa poderia ser mais uma oportunidade para esse exercício.
Tendo aceito o convite para redigir a apresentação de mais uma produção da Capina, acolho os momentos de silêncio que antecedem a escrita. No silêncio, em silêncio, folheando o registro que tenho nas mãos, as vozes vão surgindo moduladas em diferentes tonalidades, intensidades e volumes diversos. Um regime polifônico, no qual as vozes dão passagem à multiplinas diferenças, se interpelam, se misturam. Em muitos momentos, as vozes surpreendem com desenhos paradoxais sobre o nosso presente. A opção dos organizadores da publicação pela não interferência no registro das falas e nos seus desdobramentos (pensamentos, questões e sugestões), tem o mérito de envolver o leitor implicando-o diretamente no clima da conversa.
Nesse clima, sou levada a lembrar de um diálogo entre dois filósofos que, afirmando o encontro como descoberta, como proliferação de possíveis, nos convidam a pensar a conversa fora dos binarismos costumeiros – pergunta-resposta, problema-solução, questões-objeções, desmontando a ideia da palavra certa que sustenta o julgamento. Numa conversa, então, estamos sempre além de dois e vamos além do reconhecimento, já que é exercício da arte do encontro. Encontro que é abertura para outros mundos, que deslocam nosso olhar e que afirmam a complexidade da vida em devir. Para os tais filósofos, em seus diálogos, uma conversa poderia ser isso: o traçado de um devir.
Acompanhar os traçados e com eles criar outros, num movimento perma nente de problematização de nossas práticas, pode se colocar aqui como uma atitude ética nos ajudando a conjurar os riscos sempre presentes de falarmos pelos outros. E isso não é pouco quando se trata de trabalhar tendo os setores populares como tema. As questões que nos animaram a organizar o evento em 2012 e que repassamos aos convidados como incitação para tomarem a palavra na roda, geraram novas provocações endereçadas aos presentes. Se desde o início, a ideia era a de oportunizar o encontro entre alguns e publicar, disponibilizando o registro das reflexões, informações e debates para muitos, a considerar o registro que tenho nas mãos e que aqui passo aos leitores, a Roda de Conversa tende a se ampliar e seguir pesando as perspectivas e oportunidades para os setores populares.