Capina

Boletins

Dossiê Recopa

Reforço à Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar

Por: Xico Lara, Beatriz Costa e Ricardo Costa

 

A “Circular Recopa” foi um boletim informativo direcionado aos grupos produtivos, associações e cooperativas de agricultores familiares vinculados à RECOPA – Rede de Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar, que foi criada a partir de 1994 em âmbito nacional, por diversas organizações desta atividade econômica em conjunto com algumas das suas instituições de apoio, inclusive a Capina.

O boletim começou a circular em junho de 1996, acompanhando os encontros regionais de formação da Rede nas diversas regiões do país. Veiculava, além de informes de encontros, notícias dos grupos e de oportunidades de negócios e notícias políticas de interesse da Agricultura Familiar, destacando o caráter político e social do movimento. 

Os assuntos e notícias deste informativo da Recopa eram selecionadas da imprensa, sobretudo dos diversos boletins que recebíamos de associações e instituições de apoio aos agricultores, como: Departamento de Estudos Socio-Econômicos Rurais (DESER), AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), Movimento de Organização Comunitária (MOC) etc. Especialmente de forma a que os/as leitores/as pudessem acompanhar de alguma forma as mudanças na conjuntura e medir o pulso de suas forças, interesses e movimentos.

Martin van Gastel, que compunha a equipe da Capina como cooperante do SACTES – Serviço Alemão de Cooperação, estava sempre viajando e tratava de incentivar notícias vindas diretamente das associações e cooperativas. Nos primeiros anos, os grupos mandaram muitas notícias, sem dúvida; grande parte, porém, era buscado pela equipe.

A Circular era realizada, inicialmente, pela equipe que estava empenhada na construção da RECOPA, ou seja, a então equipe da Capina – Ricardo Costa, Xico Lara, Gabriel Kraychete, Sandra Quintela, Ema Siliprandi – especialmente contratada para este trabalho-, além de Martin van Gastel e Tereza Calabrese. Contudo, os principais responsáveis pela elaboração e circulação do boletim, foram Xico Lara e Martin van Gastel.

Ciro Sanglard, recém-contratado especialmente para o setor de comercialização da Capina – que seria o coração desta Rede –, passaria as informações sobre oportunidades de negócios e assuntos ligados à comercialização para serem inseridos no Circular. Mais à frente, quando se iniciaram as “Oficinas de Comercialização”, a Circular contribuiu para divulgar e relatar estes encontros.

Beatriz Costa, que sempre teve um interesse grande pelas questões da Agricultura Familiar no Brasil, deu uma preciosa contribuição, especialmente quando a equipe da Capina foi diminuindo, a partir de 2004.

A diagramação esteve aos cuidados Joselice Souza da Silva desde 1996. A partir de 2003, a gráfica GRAVIDA assumiu a impressão do boletim. Fato simbólico, pois tal Gráfica foi fundada e autogestionada pelos próprios trabalhadores, que participavam de uma escola de Trabalhadores em São João de Meriti – RJ, o CADTS – Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento Técnico Social, uma experiência de formação técnica e político/pedagógica entre trabalhadores, ocorrida na Baixada Fluminense a partir da década de 1970.

Os boletins tinham uma periodicidade mensal, mas nem sempre foi possível manter tal regularidade. Em épocas de muito trabalho, por causa de encontros, cursos e oficinas da Capina, a elaboração da Circular ocorreu no intervalo de 2 ou 3 meses.

Em meados de 1997 houve uma mudança que repercutiu inclusive no subtítulo do boletim, uma vez que a coordenação da Rede de Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar resolveu optar por sua dissolução, considerando que era prematura a sua proposta.  A Circular Recopa, neste sentido, deixou de ser um instrumento de comunicação da Rede e recebeu o subtítulo: “Uma troca conjunta de informações e experiências de comercialização associada da Agricultura Familiar”, em junho 1997.

A Capina seguiu com o programa de comercialização, não mais desenhado como rede de redes regionais, mas como um centro de comercialização para formação e realização de negócios. A intenção, obviamente, era a de seguir oferecendo um apoio, dentro da sua expertise, ao movimento da Agricultura Familiar, que só veio a se fortalecer como segmento econômico a partir de uma luta tenaz e continuada. Certamente por isso, as organizações dos/as agricultores/as foram as que mais solicitaram os trabalhos da Capina, desde que esta foi constituída, em 1989.

Na sequência, a partir de 2004, 2005, a equipe da Capina também foi diminuindo e modificando o seu modo de atuação: ao invés de assessorias realizadas diretamente com os grupos, optou-se por um trabalho de formação de redes de assessores/as locais. A edição da Circular Recopa ficou então sob a responsabilidade de Xico e Beatriz.

Em junho de 2009, o subtítulo da Circular foi alterado novamente, a fim de melhor se adequar à realidade, vindo a se chamar de “Reforço à Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar”.

Recebiam a Circular os grupos, associações e cooperativas que haviam respondido à convocação de participarem da Rede de Comercialização. Inicialmente, eram 1000 exemplares, distribuídos, sobretudo, via correio. Depois de 1997, houve uma diminuição; passamos a imprimir entre 800 a 700 boletins. A Circular Recopa servia como incentivo e “divulgação” dos grupos. Mesmo porque, não havia nenhuma outra organização que prestasse esse tido de apoio aos empreendimentos naquele momento.

A partir de 2004 e 2005, a opção por um trabalho de assessoria indireta acabou se refletindo numa menor penetração da Circular, que acabou se refluindo até a dissolução definitiva. Além disso, um dos fatos que ajudou a decidir pela diminuição da tiragem foi o início do envio da circular como anexo de mensagens eletrônicas, em 2004 e 2005.

É importante dizer que, no decorrer da publicação dos boletins, tivemos retornos inesperados, seja de alguns grupos, seja até mesmo de universidades e movimentos.

Durante 14 anos publicamos 98 boletins e acreditamos que foi uma contribuição importante para o avanço da comercialização dos produtos da Agricultura Familiar. Segmento que, antes destinado à falência, passou a ser reconhecido como fundamental para a alimentação de nosso povo: responsável por 70% dos alimentos consumidos no país. Sendo, por isso mesmo, responsável pela criação e sustentação dum outro ramo importante desta luta, que foi a construção de uma política de Segurança Alimentar e Nutricional. 

Para a Capina, tal iniciativa foi importante para divulgação do trabalho, como explicitação das nossas posições e do campo político da instituição, contribuindo para afirmação da confiabilidade institucional e, também, como divulgação, não só das oficinas de comercialização, mas também das oportunidades de negócios, dos eventos e notícias importantes para o segmento. Neste sentido, contribuímos também para criar ou fortalecer laços de comunicação e solidariedade entre estes grupos e outros grupos e iniciativas dos movimentos sociais.

Certamente, a Circular Recopa cumpriu um bom papel, no sentido de reforçar a luta de afirmação das organizações da Agricultura Familiar no país.